operação caementa

Oito são presos em operação que investiga grupo empresarial de Santa Maria por lavagem de dinheiro, fraude e corrupção

da redação

Fotos: Renan Mattos e Thays Ceretta (Diário)

ATUALIZAÇÃO - Esta reportagem foi atualizada às 22h58 min do dia 7 de novembro de 2018

A Polícia Federal (PF) e a Receita Federal de Santa Maria deflagraram na manhã desta quarta-feira a Operação Caementa, que investiga um grupo empresarial com sede em Santa Maria.

Os donos do grupo Supertex e alguns funcionários são suspeitos de cometer crimes de lavagem de dinheiro, desvio de patrimônio, fraude em licitação, omissão de vigência de contrato de trabalho, corrupção e organização criminosa. O grupo, com cerca de 500 funcionários, seria responsável por controlar 15 filiais que atuam no segmento de produção de concreto, extração e comércio de areia e pedra e movimentaria a cifra de R$ 1 milhão por dia

A operação cumpriu 37 mandados de busca e apreensão e oito mandados de prisão em cidades onde a empresa tem operações: Santa Maria, Porto Alegre, Bagé, Carazinho, Caxias do Sul, Frederico Westphalen, Garibaldi, Maquiné, Panambi, Passo Fundo, Rosário do Sul, São Sebastião do Caí, Três de Maio e em Camboriú (SC). 

Por volta das 10h30min, a PF e a Receita Federal concederam uma coletiva de imprensa onde explicaram o esquema.


Foto: Thays Ceretta (Diário)
Participam da coletiva de imprensa os delegados da PF (da esq. para direita) Diogo Caneda, Farnei Franco Siqueira, Getúlio Jorge de Vargas e os auditores da Receita Federal Darci Vanderlei Santinon e Ely Eduardo de Azevedo

O Diário transmitiu a entrevista AO VIVO:

8 PESSOAS PRESAS E MILHÕES APREENDIDOS
Conforme o delegado da PF Diogo Caneda, as 8 pessoas foram presas em Santa Maria: o principal investigado e sócio da empresa foi preso preventivamente (prisão por tempo indeterminado). Sua esposa, funcionários e o contador da empresa foram presos de forma temporária (prisão com vigência de 5 dias). Todos irão prestar depoimento a partir de agora.

- O mentor da fraude seria o casal dono da empresa, que começou a ter ascendência nos negócios. Todo o esquema seria liderado a partir do mentor em Santa Maria - afirmou Caneda.

Até agora, foram apreendidos, na residência do sócio da empresa e de pessoas ligadas a ele R$ 365 mil em dinheiro (foto ao lado) e U$ 20 mil dólares (cerca de R$ 75 mil), além de caminhões, carros, celulares, HDs e computadores.

A Justiça autorizou o bloqueio de contas bancárias e do patrimônio (imóveis e veículos) dos 8 investigados.

- Pretendemos com essas medidas atingir um bloqueio de pelo menos R$ 81 milhões em patrimônio dos envolvidos - disse Caneda.

O QUE DIZ O ADVOGADO DA EMPRESA
O advogado do grupo Supertex e dos oito envolvidos, Roger de Castro, disse vai pedir o habeas corpus de todos na quinta-feira. Ele e o colega Leonardo Santiago Sagrilo tiveram acesso ao inquérito no meio da tarde. Elizandro Basso, um dos sócios da empresa, está preso preventivamente na Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm).

- Isso que está sendo divulgado não é verdade. A gente tem um documento, embasamento muito forte em tudo que foi feito, foi tudo legalmente feito e a gente vai comprovar isso no decorrer na investigação. A empresa está andando corretamente, teve muitos problemas antes da recuperação judicial, mas esses crimes eles não cometerem nenhum deles, tenho certeza absoluta - afirmou Roger.

Ouça:

O COMEÇO DA INVESTIGAÇÃO
A investigação começou em dezembro de 2014 com uma fiscalização da Receita Federal e apurou a ocorrência de diversos crimes relacionados à gestão do grupo empresarial com sede em Santa Maria e domicílio fiscal na cidade de Panambi, " justamente uma manobra para dificultar a fiscalização da Receita Federal", segundo Caneda.

- O que apuramos até agora é que toda a operação era controlada aqui de Santa Maria. A empresa é investigada por vários crimes, como o pagamento por fora de funcionários, conhecido na empresa como 'conta do caixinha'. além da abertura de empresas de fachada, em nomes de laranjas , fraudes e sonegação de impostos - afirmou Caneda.

O ESQUEMA
O esquema envolveria o desvio do patrimônio da empresa, que está em recuperação judicial desde 2016 e tem diversas ações trabalhistas. Conforme Caneda, antes de 2016 e depois disso, uma "parte expressiva" do patrimônio dos investigados foi desviado para empresas em nomes de laranjas e para pessoas físicas laranjas.

- A recuperação judicial abrangeu cinco filiais do mesmo grupo que começaram a se valer das benesses desse regime (dívidas com credores suspensas e não pagamento de tributos). Só que os valores arrecadados para recompor a saúde financeira da empresa e pagar os credores, vêm sendo sistematicamente retirados da empresa principal e colocados em outras empresas. Temos 15 filiais investigadas, a maioria delas em nomes de laranjas. E são essas, não declaradas em nomes dos donos da empresa principal, que estão hoje com a saúde financeira em dia.

DESVIO DOS COFRES PÚBLICOS
Conforme o auditor da Receita Federal, Ely Eduardo de Azevedo, o esquema estaria arquitetado em um grupo que envolve 42 pessoas jurídicas e 5 pessoas físicas que deviam para a Fazenda Nacional R$ 189 milhões em tributos. Além disso, a empresa teria vendido produtos sem declarar as operações à Receita Federal, e a estimativa do valor sonegado em impostos pode ser ainda maior. 

_ As empresas deixavam de pagar os tributos e ocultavam o patrimônio em empresas não declaradas (laranjas) - afirmou Azevedo, esclarecendo que os tributos não pagos são de impostos como INSS, ICMS, Imposto de Renda e Pis Cofins. 

Conforme o auditor Darci Santinon, os crimes fiscais começaram quando a empresa iniciou seu processo de expansão:

_ No seu início, a empresa vinha pagando seus tributos e quando começou a expandir para outros municípios, gerando filiais, a sistemática foi não pagar mais tributos nem sequer os das retenções relacionados as funcionários. Soubemos durante a investigação que nem o Fundo de Garantia dos funcionários não era depositado. O problema desta empresa é muito grande. Estamos falando nesta cifra de R$ 189 milhões de valores declarados pela empresa. Mas ainda tem os valores não declarados.

SERVIDORES PÚBLICOS ENVOLVIDOS?
Conforme o delegado Diogo Caneda, policiais rodoviários e funcionários da prefeitura de Garibaldi, na Serra Gaúcha, estão sendo investigados por participação do esquema criminoso por corrupção e fraude em licitações.

- Policiais rodoviários que atuariam na fiscalização de caminhões da empresa são investigados por liberar veículos com carga acima do permitido, sem nota fiscal ou nota adulterada - informou Caneda.

FUTURO DA EMPRESA
Após a operação, a Receita Federal esclareceu que as empresas não serão fechadas. Elas serão investigadas e fiscalizadasConforme o o auditor da Receita Federal, Ely Azevedo, não há uma ordem de interdição da empresa neste momento. 

- Não temos ordem de interdição e esperamos que isso não aconteça. Temos noção da gravidade e do impacto desta operação na vida dos funcionários, que ficariam sem emprego. São cerca de 500 pessoas nessa situação. Além disso, a maioria das obras da construção civil de Santa Maria utiliza o material fornecido por essa empresa. Sabemos do impacto que isso pode causar se a empresa for fechada. E queremos gerar o menor impacto possível na vida das pessoas - afirmou o delegado Caneda.


PRÓXIMA FASE DA INVESTIGAÇÃO
A Operação Caementa, uma referência ao termo latino caementa, que significa pedras pequenas, entra agora em uma nova fase de investigação. Segundo a PF e Receita Federal, são centenas de documentos recolhidos que precisam ser analisados a partir de agora. A investigação seguirá no sentido de recuperação dos bens e dinheiro sonegados.

- Gostaria de ressaltar a importância desta operação que é o combate do crime organizado e agradecer o apoio da Receita Federal - disse o delegado Getúlio de Vargas.

Participam da operação 16 auditores da Receita Federal e 150 agentes da Polícia Federal.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

TJ mantém júri de réus do Caso Bernardo em Três Passos Anterior

TJ mantém júri de réus do Caso Bernardo em Três Passos

Próximo

Operação da Polícia Federal deixa rua do Centro bloqueada nesta manhã

Polícia/Segurança